Filosofia

A Filosofia na Contemporaneidade

Sócrates
A Filosofia se caracteriza por ser um conhecimento teórico, porém, não está e nunca esteve à margem dos problemas sociais e cotidianos. Podemos perceber isso logo quando pegamos qualquer livro que retrate a vida de Sócrates ou de qualquer outro filósofo da antiguidade mas, ninguém melhor do que o próprio Sócrates para nos mostrar a importância da Filosofia pois através dele atribuimos a esta um sentido mais amplo, que ultrapassa os limites do seu significado. Quero dizer que, para além de uma simples disciplina a ser estudada nos bancos escolares, a Filosofia é um modo de vida, um estilo, e mais do que isso, é a formação de uma visão de mundo distinta da que existe e, por conseguinte, tem as suas conexões com as diversas esferas do mundo e da sociedade. Podemos então dizer que, pela sua postura questionadora, não há nada sobre o qual a Filosofia não possa se debruçar. E em decorrência disso, podemos afirmar também que a Filosofia é um conhecimento instituinte, na medida em que questiona o saber instituído. Entendemos o saber instituído como tudo aquilo que é posto intelectual, política, econômica ou socialmente, que faz parte, portanto, de todas as nossas representações. Este saber instituído está no âmbito individual, passando para o coletivo e faz parte de um momento histórico. Já o saber instituínte significa o movimento, a formação de uma nova visão de mundo. Como saber instituinte, a Filosofia, através da reflexão, pode contribuir na concepção de novas representações.

A Atitude Filosófica

De acordo com CHAUÍ (2000), a atitude filosófica implica em três questionamentos básicos:

1- Por que pensamos o que pensamos?
2- Por que dizemos o que dizemos?
3- Por que fazemos o que fazemos?

Podemos perceber, então, que é através da atitude filosófica que podemos tecer, de forma crítica, questionamentos com relação aos nossos próprios atos, e, numa esfera maior, com relação à ordem vigente em nossa sociedade. A atitude filosófica nos faz distanciarmos do senso comum, na medida em que buscamos por respostas mais consistentes e precisas sobre todas as coisas e acontecimentos. É esta atitude filosófica que nos leva à compreensão de ser no mundo, através de uma postura "socratiana" da afirmação "só sei que nada sei", que nos dá a impressão aparente de que estamos sempre partindo da "estaca zero", ou seja, do nada das incertezas, para algum lugar que nos leve a sabedoria. 

A Filosofia e a ciência*

"Na Antigüidade grega, a ciência se encontrava vinculada à filosofia. A separação só ocorre no século XVII, quando Galileu introduz o método científico, baseado na experimentação e na matematização. Nos séculos seguintes, o método da física é utilizado na compreensão de outros setores da natureza, provocando o nascimento das ciências particulares. A eficácia da nova maneira de abordar a realidade se faz notar no desenvolvimento da técnica, que é ao mesmo tempo a aliada da ciência no processo experimental e também fruto desse novo saber. A Revolução Industrial (séc. XVIII) representa a materialização desse sucesso, que amplia o poder da classe burguesa, promotora desde o início da ruptura com o pensamento mediaval contemplativo.
Um ideal de cientificidade envolve todas as disciplinas que se pretendem ciências, inclusive as ciências humanas.
Por influência do positivismo do século XIX, surge o cientificismo, que, exaltando a ciência como a forma mais adequada de conhecer, critica o conhecimento mítico, religioso ou metafísico, por não se fundarem na experiência do fato positivo.
O cientificismo positivista é, na verdade, um reducionismo:
  • reduz o objeto próprio das ciências à natureza observável, ao fato positivo;
  • reduz a filosofia aos resultados das ciências;
  • reduz as ciências humanas às ciências da natureza.
Mas a preocupação positivista de tudo reduzir ao racional redunda n seu oposto, ou seja, na criação de mitos. O positivismo cria o mito da cientificidade, segundo o qual o único conhecimento perfeito é o científico. Embora esse conhecimento venha da experiência, dos fatos observados, o saber que ele constrói passa a ser considerado o único que tem autoriadade: portanto, o poder pertence a quem possui saber. Cria-se assim um outro mito, o mito do especialista, e o corolário do discurso competente: 'não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstância. O discurso competente confunde-se, pois, com a linguagem inatitucionalmente permitida ou autorizada, isto é, com um discurso no qual os interlocutores já foram previamente reconhecidos como tendo o direito de falar e ouvir, no qual os lugares e as circunstâncias no qual o conteúdo e a forma já foram autorizados segundo os cânones da esfera de sua própria competência'."

(*) ARANHA, M.L.de A. e MARTINS, M.H.P., Filosofando: Introdução à Filosofia, pg. 202. São Paulo: Editora Moderna, 1986.